DOENÇAS ASSOCIADAS:

Além das inflamações articulares nos membros, podem aparecer outras doenças associadas à Artrite Reumatóide, e que deve-se observar ao propor um tratamento, pois os sintomas revelam características específicas do quadro clínico daquele paciente. Alguns exemplos:

– Síndrome de Sjogren, é uma inflamação de glândulas lacrimais. Nesse blog eu tenho um post falando melhor sobre ela, clique aqui para conhecer melhor;

– Inflamação na esclerite ocular;

– Pode-se ter também uma hipotrofia muscular, perda de massa muscular;

– É comum o comprometimento do sistema nervoso na coluna cervical, especialmente as raízes nervosas periféricas, com sintomas de formigamento e queimação nos membros, quando acomete raízes sensitivas;

– Anemia, com redução de hemoglobinas ou hematógritos;

– Síndrome de Felry, é a associação RARA da artrite reumatóide com o aumento do tamanho do baço (esplenomegalia), redução na quantidade de glóbulos brancos (neutrófilos);

– Vasculite é uma inflamação nos vasos, tendo nesses casos inflamações ao redor das unhas.

VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Todas as doenças reumatológicas na Medicina Chinesa tem um padrão de tratamento a ser considerado. A grande cerne em um espectro físico, que causam as dores e as disfunções presentes nessas doenças, é o que chamamos de Síndrome Bi, ou síndrome de obstrução dolorosa. Claro que para ter uma abordagem mais aprofundada no quesito tratamento, devemos levar em consideração que há também um comprometimento da essência do paciente. Mas vamos falar primeiro a respeito das Síndromes Bi:

Esse conceito de Síndrome Bi parte de uma base clássica, apresentado pelo Huang Di Nei Jing, onde destaca que as Síndromes Bi são causadas pela combinação do ataque externo de Vento Umidade Frio, podendo variar para Vento Umidade Calor, por conta da transformação desses agentes patogênicos em um corpo que já estaria deficiente, suprimindo o sistema imunológico, e portanto facilitando essa invasão externa.

– O que seria um corpo deficiente?

Para não entrarmos em conceitos teóricos profundos, vou explicar de duas formas:

1) Deficiência congênita da essência, fazendo com que a pessoa já tenha nascido com uma pré-disposição à adquirir aquele tipo de doença no decorrer da vida. O que é próximo ao conceito da ciência moderna de pré disposição genética;

2) Deficiência adquirida através de habitos de vida, como má alimentação, excesso de atividades físicas, intelectuais ou sexuais e não dormir direito. Sobre não dormir direto, na ciência moderna é comprovado que boas noites de sono consolida o sistema imunológico, e na medicina oriental esse fator é sem dúvida fundamental para ter uma barreira imunológica boa, pois o Wei Qi, o Qi que protege o nosso corpo, que circunda na nossa pele e impede a entrada de fatores patogênicos externos, durante a noite ele se internaliza para se nutrir, para que no outro dia esteja forte novamente. Então durante a noite ele não consegue nos proteger. Se a pessoa troca o dia pela noite, não dorme bem, terá o comprometimento da nutrição do WeiQi , tornando-a mais exposta a agentes patogênicos, especialmente os externos.

– A entrada da doença no corpo

Com essa deficiência, somando-se ou não, à uma deficiência na essência, em algum momento haverá a entrada do vento frio (gerando dor), gerando uma obstrução de Qi e Sangue no local em que há dor.

Esse Vento Frio, pode evoluir para o Vento Frio Umidade (quando já há a formação de edema, acúmulo de líquido corporal na região afetada). Nesse momento há a formação da Síndrome Bi.

Esse Vento Frio Umidade pode se transformar em Vento Calor Umidade, nesse caso há um excesso de WeiQi no local, fazendo tudo o que podem para mover aquela obstrução. WeiQi tem natureza Yang, de calor), agora há a sensação de dor que queima, calor e vermelhidão no local. Até que esse WeiQi se canse, fique deficiente de tanto empenho em eliminar aquela obstrução, voltando assim a ter uma característica de Vento Frio Umidade. Então aqui vemos uma característica de ação dinâmica entre Vento-Frio-Umidade e Vento-Calor-Umidade.

É importante notarmos quem está em evidência durante o tratamento:

Sindrome Bi Migratória (Vento): Vento por exemplo dá a doença uma característica de dores ou formigamentos migratórios, que se espalham, e que podem ser muito variáveis em termos de escala de dor, então doem agora, deixam de doer, e depois voltam com intensidade mais alta. Podendo ter uma alternância entre febre e aversão ao frio (Síndrome de Shao Yang);

Sindrome Bi Fixa (Umidade): A umidade traz consigo inchaço, uma notória sensação de peso, tensão, parestesia (formigamento), e dependendo da cronicidade, ela gera o que chamamos de Mucosidade, uma das grandes responsáveis pela deformação na região afetada. Tende a piorar em dias chuvosos;

Sindrome Bi Dolorosa (Frio): Já o Frio dá uma sensação de dor fixa constante, geralmente muito forte com uma sensação de pontada, e o paciente sabe exatamente onde dói “dói exatamente aqui”. Em casos mais crônicos a sensação de dor em “facada” como é comum ouvir no consultório, nesse caso há uma condição onde já há a estase de sangue, podendo também gerar defornação. Melhora com o calor e piora com o frio;

Síndrome Bi Quente (Calor): Quando o calor está em evidência há um calor na região dolorida, com ruborização, e sensação de queimação no local.

Síndrome Bi na pele: O Pulmão é o responsável e grande acometido.

Síndrome Bi no músculo: baço Fibromialgia

Síndrome Bi no Tendão: fígado Fibromialgia

Síndrome Bi dos Vasos: coração Estase de sangue se instala em diversos locais

Sindrome Bi de Osso: Rim maioria das doenças

Com a cronicidade da doença podemos somar-se à Síndrome Bi: Deficiência geral de Qi e Sangue e/ou Estase de sangue e/ou Mucosidade nas articulações e/ou Deficiência de Yin do Fígado e do Rim e/ou Deficiência de Yang do Baço e do Rim.

ABORDAGENS DE TRATAMENTOS:

Preservação da essência: VC4, B43, VG4.

Síndrome Bi Migratória: Dispersar o vento (B12, VB20, VG16 em dispersão + ventosa), e tonificar o sangue (B17, BA10);

Síndrome Bi Fixa: Drenar a umidade (BA9 bilateral+VC9, B22, VC5, B39) e tonifica o Qi (E36, BA6, VC6, VC17). E drenar a umidade local, peso nas pernas por exemplo: (E28 pistonagem em dispersão);

Síndrome Bi Dolorosa: Tonificar o Yang verdadeiro do rim, especialmente com moxa (R1, B23, VC4, VG4, VC6, B10 + pontos Ashí);

Síndrome Bi Quente: Limpar o calor (VG14, IG11, IG4 em dispersão).

Doenças reumáticas crônicas:

Deficiência de Qi e Sangue (E36, BA6, F8, B20 e B23, VC6, VC4);

Mucosidade, quando há deformidades (E40 bilateral, VC12, BA9, B20), e devemos fortalecer o Qi para a mucosidade não voltar (E36, VC6, VC17);

Estase de sangue, quando há dor em facada aliado com o frio (dispersa BA10 e B17, F3), se essa estase se iniciou em um quadro de deficiência de sangue, devemos primeiro tonificar o sangue e depois dispersá-lo (PC6, BA6, IG11).

Vale destacar que o excesso de agulhas poderá ser prejudicial a um paciente que já está em deficiência, pois não há Qi e Xue o suficiente para mover, logo o excesso de agulhas poderá gerar cansaço ou piora nas dores. Logo o foco deverá ser sempre na queixa principal e o tratamento do corpo como um todo deve complementar o tratamento.

Escrito por Dr. Lucas Mendonça

Minhas referências bibliográficas:

Su Wen – Huang Di Nei Jing, cap. 43

Su Wen – Huang Di Nei Jing, cap. 44

Reumatologia Síndromes Bi – Vinícius Marques – faculdade Ebramec

Os fundamentos da Medicina Chinesa, Giovanni Maciocia

Tratado da Lesão Por Frio – Shang Hán Lún

American Colege of Rheumatology

A essência da Medicina Chinesa, Philippe Sionneau